CORA CORALINA, NA COZINHA DOS VURDÓNS

CORA CORALINA, SIMPLISMENTE MULHER

No vai e vem dos Vurdóns, lembrarmos de Cora, hoje, meados de Janeiro de 2011, onde mais uma vez a cidade sucumbe ao rio vermelho...é colher histórias, cozinhar no tacho, refletir na coragem de mulheres que não se calaram, fosse escrevendo, fosse cozinhando. Cora Coralina segue quebrando tabus e fazendo doces.

Todas as Vidas ( CORA CORALINA )

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre
seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida - a vida mera das obscuras! 

Cora Coralina

Cora Coralina – Doceira e Poeta, pesquisa e seleção de textos de Vicência Brêtas Tahan, Global Editora. Retirado http://comida.ig.com.br Por Guta Chaves.

 
Doce de Mamão Vermelho, por Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a Cora Coralina, extraída do livro Cora Coralina – doceira e poeta

Tempo de cozimento: de 3 a 4 horas

Ingredientes

1 mamão vermelho e firme de 2 quilos
1 colher (sopa) de bicarbonato ou cal virgem
1 quilo de açúcar cristal

Modo de fazer
 
1. Descasque o mamão, retire as sementes e corte em pedaços. Coloque os pedaços em água com bicarbonato ou cal virgem de construção.
2. Depois de uma hora lave os pedaços em água pura.
3. Prepare, à parte, calda em ponto de espelho, quantidade suficiente para cobrir os pedaços.
4. Quando ela estiver no ponto, coloque os pedaços de mamão (faça antes furos com o garfo para a calda penetrar) e em fogo lento espere até que fiquem macios. Deixe dormir na calda, apurando no dia seguinte.
5. Com o auxílio de uma colher de pau ou escumadeira, coloque para escorrer em peneira de taquara. Enquanto isso apure bem a calda restante, até que comece a açucarar.
6. Depois de escorridos, passe os pedaços de mamão na calda apurada para que fiquem glacerizados. Acabe de secá-los ao sol.
Nota: o bicarbonato ou a cal servem para deixar os frutos durinhos por fora e macios por dentro.

SUA VIDA:  www.casadecoracoralina.com.br



"Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores".


Saibam dos livros de Cora: www.vilaboadegoias.com.br


 MAIS DOCES DE CORA, A POETA DOCEIRA


Doce de Figo - Cora Coralina
 

Afervente o figo verde (firmes) em água com bicarbonato ou cinza de fogão à lenha. Para cada 100 figos coloque uma colher de sopa de bicarbonato ou uma xícara de cinza. Deixe esfriar e coloque no congelador com a água que ferveu. No dia seguinte, com os figos ainda congelados, retire a pele, que sairá com a maior facilidade e corte a parte inferior em forma de cruz. Lave-os. Prepare, à parte, calda em ponto de espelho, em quantidade que cubra os figos. Quando estiver pronta, coloque os figos e, em fogo lento, espere até que fiquem macios (por duas ou três horas). Deixe os figos na calda de um dia para o outro e só depois apure. No dia seguinte, coloque o tacho no fogo para apurar a calda (na parede do tacho, começa a açucarar). Tire do fogo e em movimentos de meio círculo vá misturando os figos e revirando-os na calda. Note, que a calda vai engrossando e açucarando. Depois, com um garfo, retire um a um os figos e coloque-os sobre tabuleiros. Estarão glacerizados. Nunca se deve passá-los em açúcar cristal, o glacê é a própria calda. Termine de secar ao sol.
nota
O bicarbonato ou a cinza no qual os figos devem ferver, por apenas cinco minutos, facilitam a retirada da pele e os conserva bem verdinhos. Dicas: encontra-se figos sem pele em supermercados. Prepare a calda e siga a receita. Para dois quilos de figo, um quilo de açúcar.


Sou mais doceira e cozinheira
do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as Artes:
objetiva, concreta, jamais abstrata
a que está ligada à vida e
à saúde humana.

(trecho do poema: Cora Coralina, Quem É Você?)

Doce de abóbora - Cora Coralina

Uma abóbora de bom tamanho, madura. Descascar tirar as sementes e cortar em pedaços (cubos de 4 cm x 4 cm). Colocar em água com cal virgem (solução hidrocal). Depois de uns dez minutos, lavar em água corrente. Preparar uma calda fina, que cubra os pedaços da abóbora. Para dois quilos de abóbora, um quilo de açúcar. Ferver em fogo brando (até amaciar) com paus de canela e ou cravos-da-Índia. Apurar no dia seguinte. Se quiser glacerizados, retirar da calda os pedaços e pôr numa peneira de taquara para escorrer bem. Voltar a calda ao fogo para apurar bem. Passar os pedaços e colocar em tabuleiros que irão ao sol para secar os pedaços do doce.
nota
Não se deve mexer o doce para não quebrar os pedaços da abóbora. Se precisar virá-los, que seja de forma cuidadosa, um a um, com garfo.

Pois que assim seja, cara Aninha, cara Cora Coralina, da voz dos simples, dos doces divinos, das coisas da gente. Simplismente mulher.

Caminha e faz doces...Cozinha dos Vurdóns




Comentários

  1. Que bela ideia esta receita da Cora Coralina. Que linda mulher!
    Parabéns!
    Um pouco de imagens sobre Portugal do interior...
    beijos
    http://falcaodejade.blogspot.com/2011/01/passeio-pelo-sabugal-convidada-por.html

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  2. Oi amiga,

    Cora Coralina, a Aninha, um orgulho para qualquer mulher. Fico feliz que gostou, estou atrás de outro poema dela que muito nos agrada.
    Depois de algumas imagens que temos visto ultimamente, o jeito é dar uma voltinha pela terra mãe ... saudades de Portugal, já se vão 23 anos que não vemos esse mar...

    bjs das 5.

    Cozinha dos Vurdóns

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