UM PORTUGAL NO CORAÇÃO DA COZINHA DOS VURDÓNS


Estamos aqui no 6º post sobre a nossa estadia em Portugal e é hora de pegar o vôo para a França.
Não foi fácil partir de Portugal e isso é uma constatação. 
O coração e a mente são livres e por isso não obedecem ao corpo e nem ao peso das malas. 
Nossas receitas são de saudade, beleza e um enorme carinho que não cabe nas páginas desse blog, mas temos de tentar.
Saudade é o amor que fica.

Estação do Oriente/Lisboa



Assim entre a nova arquitetura e as velhas águas estávamos lá, até que enfim. Conhecimento e modernidade, as ramas a florecer. Silenciosas ninguem as via por lá, como as águas, memória e vida. Foi bom respirar.

Santa Luzia

A caminho do Castelo de São Jorge



A gente sabe que ir ao Castelo de bondinho é maravilhoso, ir a pé é divino.


Uma gente que não preço.


 Se não, teríamos perdido esse sorriso e teria sido sem dúvida uma grande perda pra nós. Como se chama? Não sabemos, mais decidimos chamá-la de DIGNIDADE.






Do largo do Contador
  


Andar e respirar, ouvir o vento. Lá falamos com o vento. As ruas estão vivas, as flores sorrindo pelo caminho a fora. Lisboa vive.










A harmonia que permanece, num equilíbrio quase imperceptível. Tempo, se precisa de tempo para enxergar, bem mais que de olhos.
E assim saímos por entre as ruas, sem passeios turísticos programados, Portugal é um país que deve ser vivenciado e não só visitado. Descobrimos isso em Lisboa.

Em frente ao café Nicola -  a praça do Rossio


Nesse exato ponto, trasformamos um sonho em realidade e descobrimos que realmente somos feitas de sonho. Maktube - estava escrito.
Aqui se encontraram uma cozinheira e um Falcão. E não há nada no mundo que apague essa lembrança.




A Mosteiro de São Jerônimo, seus jardins e suas fontes.
História, jardins e água.
Lisboa respirava e nós respirávamos com Lisboa.
Conhecer e saber que existe é importante, constrói e contribui para a cultura de uma pessoa e de um povo. Entendemos um pouco mais a névoa triste nos olhos desse povo. É mais que viver do passado. Existe um sentimento que transforma monumentos sólidos em reais possibilidades, batalhas já perpetuadas em perseverança de conquistas atuais.
Ter hoje a sua direção rumo ao futuro, gravada em solo firme, de um povo sem igual.


"O céu de Portugal é composto pelo brilho de sua gente, e pela memória dos seus anjos".

E assim partimos de Lisboa, carregando A Severa, o Róssio, alguns versos de Camões, uns pastéis de viagem e um Falcão voador. Encontramos famílias ciganas de etnia Calon vendendo seus chales bordados (não tivemos autorização de fotografá-los), eram 6 mulheres, 2 homens e 3 crianças. Ouvimos algumas músicas, alguns versos poéticos sobre os ciganos de Portugal. Estatísticas, dificuldades e diferenças, lições sobretudo de uma etnia que fala de suas conquistas e tem os olhos abertos para os problemas de ambos os lados. 
 Da Estação do Oriente em Lisboa a Tunes e de lá a Portimão.

Aqui nossa pesquisa gastronômica começou, aqui encontramos roms.

Praia da rocha, andar e pensar, observar e registrar. Quantas vezes passamos pelo mesmo lugar e não nos damos conta. Descobrimos que as barreiras são construídas por nós mesmos e aqui muitas cairam por terra.


A caminho do mar - praia da rocha
Praia da Rocha
Forte de Santa Catarina
Forte de Santa Catarina - Portimão
"Compreender um sentimento dentro da dança, hoje danço assim, com um pouco de Portugal em mim. Um país que cheira alecrim, jasmim e rosa de santa Terezinha.""Grupo Sara Kalí - Prof. Lucimara"



"Poder escutar, trouxemos um pouco de Dª Inácia conosco e suas receitas, de vida e de comida". Bertha e eu
Entretanto, gostaríamos de apresentar uma família que nos proporcionou momentos de muita alegria, muita realidade e da qual guardamos imensa saudade.

Em frente ao Marisqueira Restaurante – Humberto’s, em Portimão encontramos uma avenida que se não fossem por suas falésias seria literalmente a beira mar. Nesta calçada se encontram muito bem montadas umas bancas, todas bem projetadas e organizadas, devem ser umas 10 ao todo. Ali se pode comprar roupas, sapatos, bolsas, colares, pulseiras e brincos. Tem artesanato de conchas e bolsas de viajem. Ali se encontra a família do senhor Carlos ou boa parte dela.

Chegavam as 9:30 da manhã e por lá permaneciam até as 20:00 hs. Seus rostos mostram a expressão de anos na construção de uma vida melhor pra si mesmos e para seus. O mais bonito na colocação do Sr. Carlos é, somos daqui de Portugal mesmo, nascemos aqui, somos Portugueses. Trabalhando no comércio de roupas, seu filho de nome Carlos também, trabalha com sapatos, ele, a esposa e os dois filhos. A filha também trabalha no comércio de bolsas e blusas junto com o marido e seus filhos e ainda há outras barracas de brincos, colares e pulseiras. 

Ali passamos horas conversando sobre as condições atuais dessa etnia ou parte dela que vive em Portugal. Falamos sobre as várias feiras que eles têm de trabalhar para garantir o sustento da família e poder mandar os filhos para as escolas. Essas crianças são visivelmente de uma desenvoltura acima da média de suas idades, falam muito bem, se apresentam com clareza e conversam sobre o tema que lhes é proposto até com certa desconfiança no início, que termina ao primeiro sorvete de casquinha... crianças só isso. 

A falta de condição de emprego fixo se dá, segundo eles, pela discriminação quanto a sua etnia, mais nem por isso esmorecem, se dividem em duas ou três feiras e vão levando a vida. 

Sr. Carlos e Dª Sabina em companhia de uma de suas filhas.
Conversamos sobre as condições de vida e residência deles. Já não são mais nômades, possuem endereço fixo, residência própria. Hoje se deslocam mais para participarem de feiras maiores que acontecem de vez em quando em cidades vizinhas, mais tudo dentro de Portugal. Durante um tempo o Sr. Carlos veio regularmente ao Brasil, em São Paulo, quando valia mais a pena o comercio por aqui e havia mais vantagens nas vendas. 

Reconheci seu brinco, disse Dª Sabina, esposa do Sr. Carlos, é antigo demais, ouro vermelho, 24, não se encontra mais, não se faz mais, só as mulheres da nossa geração pra trás já viram um assim. Prestei logo atenção e todas nós comentamos que vocês deveriam ter alguma coisa com nosso povo. Ela estava certa, esse brinco está a mais de 100 anos na família e agora comigo. Dª Sabina está visivelmente cansada e aparentemente anda tendo problemas de saúde. Ainda existe uma forte resistência dessa etnia de procurar postos de saúde e atendimentos médicos preventivos.  Esse é um assunto delicado e cheio de motivos e razões, entretanto um deles – Carlos o filho mais velho da Dª Sabina teve problemas pulmonares que o levaram a internação, sua esposa nos contou que receberam toda a assistência e que ele já está melhor, mais teve de passar uns bons tempos internado. Agora tudo já está voltando à normalidade.

Conversamos ainda sobre os remédios caseiros, a tão famosa medicina cigana, dos Rhom, Sintis e dos Cales (dentre outros), essa já anda muito desaparecida, como a língua, pouco se tem preservado das bases. Conversamos sobre cozinha... Afinal essa é a nossa praia e foi tudo muito bom. 



O comércio não anda bom nada, vai melhorar depois do dia 15 de junho, o jeito é torcer e rezar. E foi abençoando - os e sendo abençoadas que partimos no dia seguinte de Portugal, e não foi à toa que nos lembramos de  uma receita "AMEIXAS ou TÂMARAS RECHEADAS”.




AMEIXAS ou TÂMARAS RECHEADAS:

20 ameixas pretas sem caroço e abertas ou 20 tâmaras abertas e sem caroço,
Recheio: queijo mourisco amassado com o garfo (mais ou menos 5 fatias grossas) e temperado com molho de alho e azeite. Recheie as ameixas ou tâmaras abertas e coloque uma castanha em cima. 


 E para além de qualquer outra coisa, são esses os aromas e essas as imagens que passaram a fazer parte das nossas vidas: Cozinha, pesquisa, dança e saúde.

Com carinho, graditão e saudade. Um grande beijo das cozinheiras, ou melhor 5 ...

Cozinha dos Vurdóns

Comentários

  1. Divinal a vossa viagem por Portugal.
    Conhecer a MJ, é um momento mágico nas nossas vidas.
    Tanto de nós que vocês nos mostraram!!!
    Um abraço de Portugal, de um Alentejo tão quente...

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  2. Oi Carlota, Ainda tem muito do Alentejo que aprecio, Porto e Coimbra são lugares que nos enchem os olhos. Por enquanto vamos abastecendo os ossos corações de felicidade e saudade.
    "Tanto de nós que vocês nos deram".

    5 bjs e que bom que passou por aqui.

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  3. Mais importante que ter muito tempo é ter olhos para enxergar, esses que vocès têm, sensíveis e amáveis .
    O passado brilhante de Portugal ficou gravado nas pedras, hoje somos um pequeno país, feito de memória e de esperança num amanhã melhor.
    Gostei muito deste post, a Maria João é amiga dos seus amigos, un encanto de pessoa, e as ameixas recheadas uma tentação, como sempre...
    Beijinhos

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  4. que linda viagem .
    é maravilhosa a mistica que dão que nos transmitem
    e o coração enche-se dos cheiros e aromas que carregam ...
    grata
    mil beijos

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  5. Cozinha dos Vurdóns,
    Que fotografias tão bonitas do meu/nosso país!
    O vosso olhar é fantástico.
    A ementa é-nos apresentada com muita classe.
    Obrigada pela vossa sensibilidade.
    5 Bjs. :)))))

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  6. Maria, vosso coração ocupa e muito as nossas lembranças. MJ é realmente linda. Obrigada por vir.
    5 bjs


    Marizei,
    E incrível o que a lembrança faz de bom...milbjs também.


    Ana,
    Só conseguimos enxergar o belo se ele existe e o vosso/nosso país é muito belo, de gente e de história.
    Bom tê-la aqui.
    5 bjs

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  7. Chego sempre atrasada... Vá lá que as receitas dos vurdóns são eternas, a cozinha sempre cheia de coisas boas e, assim, sobra sempre um bocadinho para mim...

    OBRIGADA! (vá lá, desta vez não fiquei tão mal...) Sinto-me ali bem, abraçada à E.
    Lindas fotografias e belos momentos de amizade, conversas sérias ou meio-divertidas...
    Vi que a vossa viagem vos levou aos nossos rohms e deve ter sido emocionante encontrá-los e falarem das dificuldades deles - que não correspondem só à etnia pois, Portugal está passando um momento bem difícil- , das esperanças.
    Que o destino (Maktube?) vos traga só coisas boas, minhas amigas, que "curam" o corpo e a alma...
    Beijos 5 (ou beijos 7?)

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  8. Nossa Falcão (é claro que já nos apropriamos), não se chega atrasada a partir do momento que jamais deixou de trás. Não se atrasa no coração das pesoas.

    Maktube nos veremos de novo, está escrito. E sempre 7 bjs.

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  9. Ainda bem que gostaram de Portugal.Lisboa é
    linda, não é? Eu sinto-me sempre maravilhosamete
    em Lisboa, aliás algum tempo sem lá ir e a saudade
    faz-me ir de imediato.
    Beijinhos e que bom esta divulgação de Portugal.
    Bj.

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  10. Seja bem vinda. Sim Lisboa é linda. O melhor de portugal é literalmente seu povo.

    5 bjs e venha sempre dar uma olhadinha.

    Cozinha dos Vurdóns

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  11. Sente-se o carinho neste post.
    Lindo.
    Belas fotografias.

    Um beijinho
    Isabel

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  12. oi Isabel,

    e é iso mesmo, um enorme carinho. 5 bjs.

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  13. Voltem depressa, queridas amigas! Deixaram muita saudade!

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  14. Que bela homenagem a Lisboa e aos portugueses! E que bela mensagem de esperança e ânimo que é, ela própria, uma homenagem também :)
    Um abraço e voltem sempre!

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  15. Lisboa e Portugal no deram muito, nos deram aquilo que não tem preço e não se paga.

    voltaremos ... 5 bjs

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