CONVERSAS NA COZINHA DOS VURDÓNS - AS NOSSAS CRIANÇAS

OS DIREITOS DA CRIANÇA



"Quando lutamos por alguma coisa, seja ela qual for, precisamos dar ouvidos aos nossos sentimentos. Eles falam e às vezes gritam, entretanto, ainda não sabemos por que, mas sabemos que isso mexe também com a nossa visão. Quando por algum motivo vemos uma cena forte... um clik é ouvido, neste momento algumas pessoas acordam, poucas, outras parecem entorpecidas, adormecidas, esquecidas, isoladas ou como se costuma dizer de uns tempos pra cá, no seu quadrado, exercendo o direito de ilha. Por aqui exercemos o direito construir."

A Ceila, do blog “desabafo de mãe” – nos fez uma pergunta: Gostaria de convidá-los para nossa blogagem coletiva sobre Direitos da Infância. O objetivo é nos questionar as razões pelas quais o Estatuto é tão distante da vida de mãe. Vcs tem essa percepção, ou não?

E agora lançamos nossa resposta.

Sim, esses direitos existem. E sim, são distantes porque foram feitos para a proteção dos pequenos cidadãos como um todo independente do vinculo de nascimento, o que deixa claro que o estado tem obrigações, não só os pais. Torna-os visíveis e detentores de proteção e respeito, passaram a existir de fato. Na prática são princípios simples, porém, abrangentes e com senso de direção. Tal proteção (direitos da criança) foi enunciada na Declaração dos Direitos da Criança em Genebra, de 1924, Reconhecida e Adotada pela Assembléia das Nações Unidas de 20 de novembro de 1959 (http://www.culturabrasil.pro.br/direitosdacrianca.htm) e ratificada pelo Brasil. Assim nasceram os 10 princípios fundamentais. O mundo andou desde esse tempo, nações se consolidaram, a União Européia se formou, nações caíram, formas de governo se dissolveram ou se alicerçaram, novas leis, novas consciências, novas estruturas familiares se formaram e por fim desde 1924 a base de preocupação desses 10 princípios continua a mesma. O Brasil mudou. 


Hoje temos em vigor o ECA - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE LEI N° 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 - Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. São ao todo 267 artigos e que no final desdobram os 10 princípios acima citados, segundo os interesses e necessidades de cada nação. (http://www.eca.org.br/eca.htm#texto) .

 

OK! ONDE NÓS MÃES NOS ENCAIXAMOS? 


Vamos ficar somente com o Brasil. Nosso grau de consciência sobre leis e direitos é tão obscuro e premente que nos tira o direito a igualdade entre nós mesmas, mulheres. O estatuto reconhece a criança e o adolescente como ser individual e ele realmente o é.

 

Não somos unificadas sequer sobre nossos direitos (enquanto mulher) e nem em saber (conhecimento). 

1. O questionamento maior permanece nos grandes centros, dentro das nossas evoluções profissionais, que é quando se forma o pensamento. 

2. Fomos feitas com um instinto de proteção, que a princípio nos dá toda uma condição natural e soberana de cumprir na integra, embora de forma intuitiva os artigos e princípios acima enunciados. Sabemos quem são nossos filhos e pronto. Para muitas crianças infelizmente não é assim, por isso, por esse motivo existe o Estatuto, para assegurar os direitos das crianças. 

3.  Antes crianças, agora adultos, firmamos a estrutura repetitiva, é mais seguro, mais fácil e ainda atual, costumamos enxergar os problemas depois que nos atingem, não antes. O Estado também tem obrigações e responsabilidades sobre essa criança.

4. Temos uma diversidade absurda de etnias, portanto precisamos respeitar as diferenças. As crianças são as que mais sofrem, junto com idosos e as mulheres. Porque temos um estatuto para o idoso? Pelos mesmos motivos. 

5. A formulação do estatuto teve uma ampla discussão na época, há 21 anos atrás, 1990, nosso país fervia, borbulhava, que idade tínhamos?

 

E voltamos para as três bases:

EDUCAÇÃO,

SAÚDE

E CULTURA.

A falta de participação das mães, das mulheres e de todos os outros envolvidos se dá principalmente pela falta de conhecimento que tal mecanismo existe, pelo comodismo do cotidiano e da sobrevivência, pela falta de informação de base e pela falta de educação cultural e social dos Pais, ex criança, hoje adultos e assim se segue a roda.

Veja, essa é a mesma roda que gira a discriminação, por exemplo, falta de conhecimento, falta de esclarecimento, manutenção de preceitos sem justa causa – preconceito.

ART. 3° - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros, meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.


Um exemplo para nós, mulheres, mães, tias, irmãs, sobrinhas, avós, vizinhas.

Um exemplo disso na prática – crianças e adolescentes cadeirantes/portadores de deficiência física: 

*Quantas crianças deficientes ou portadores de deficiência física estudam na escola do seu filho, da sua neta, da sua sobrinha...
* Quantas rampas de acesso existem nessas unidades escolares...
* Quantas calçadas com rampa no seu prédio, no bairro, na sua rua, na padaria, no shopping...

Condições de liberdade, direito de ir e vir, direito social.

Não sabemos, mais corremos o risco de achar que o nosso filho, que está confortável e seguro no banco de trás do carro é diferente daquele que bate a sua janela para vender balas no semáforo. Não é a mãe de uma criança, o estado tem de fazer o seu papel, igual ao do hino: dos filhos desse solo, és mãe gentil.

Não lemos sobre estupro infantil, porque nos choca, nos deprime, não denunciamos porque não nos metemos na vida dos vizinhos e porque cada um educa como quer seus filhos, isso nos dá a falsa liberdade de acharmos que educamos os nossos. (esse índice é enorme quando se trata de pessoas da mesma família) E não sabemos sobre o direito a acessibilidade porque graças a Deus não temos um filho nessas condições. Simplesmente não nos metemos.

Não existem as nossas crianças, existem apenas os nossos filhos.

Quem protege a menina que deve ter sua primeira relação sexual com o próprio pai... Proprietário.

São inúmeras questões, o papel da mãe, do pai, do cidadão de maneira geral é levar as questões que precisam ser discutidas e vistas, gerar fomento, a do governo é fazer políticas públicas para seja cumprido. Essa não é uma questão para as mães ou os pais, essa é uma questão para a vida e para o exercício da cidadania, é de todos nós.

A distância da mãe no Estatuto – (minha mãe, por exemplo, trabalhadora ativa naquela época) é hoje apenas um reflexo de como lidamos com questões sociais no nosso país e de quão pouco nos posicionamos em relação a elas e quão pouco sequer sabemos delas. Muitos fóruns de discussão existem, ONGs, Institutos, UNICEF, Associações e órgão ligados ao governo, município e prefeituras fazem essa corrente. Onde nós estamos; mães, socialmente ativas, hoje? Ano 2011? 

Crianças ciganas, filhas de todas nós.

EDUCAR PARA PROTEGER, PROTEGER PARA RESPEITAR.
EDUCAÇÃO, SAÚDE E CULTURA.

Nossa receita do dia:

Primeiro separe os ingredientes, você vai precisar:

1. Fôlego e ânimo, depois que começar a expandir sua mente, ela não poderá ficar inerte, pode desandar a receita,

2. Erre até aprender a hora certa, esse ponto terá de ser dado devagar, procure os produtos e se preciso for, crie um,

3. Busque conhecer a realidade das coisas pelos olhos do NÓS, nossas crianças, nossas receitas, ajuda a não solar o bolo,

4. Procure acrescentar idéias novas à realidade do seu dia a dia e tente mudar o que está ao alcance da sua mão. Vai se surpreender do quanto se pode fazer com tão pouco.

Depois de assado o bolo, que tanto faz ser em Brasília, São Paulo, Paraíba ou conter ingredientes mais elaborados; corte – o com as mãos e distribua a quem encontrar. Na escola, na clínica, na padaria, no trabalho. E dá certo, funciona.

É tão somente a luz do conhecimento e do envolvimento que podemos nos tornar plenas de direito. Precisamos conhecer para mudar, aprender a distancia dos nossos braços e ter a certeza de que podemos ajudar na construção de dias mais plenos de direitos e deveres.

Essa é a nossa receita e é destinada a todas nós mulheres, de todas as classes e etnias. 

Fazer valer e ajudar a melhorar o Estatuto da Criança e do Adolescente no nosso país é a maior participação que podemos ter na vida das nossas crianças, futuros adultos, que desde pequenos já são cidadãos.


Podemos até ser uma gota no oceano, mais podemos fazer com que ele transborde. 

O que estamos fazendo: Projeto Kalinka

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. (Fernando Pessoa)

Cozinha dos Vurdóns

Comentários

  1. Não há palavras a registar quando nos é dado de uma forma profunda uma receita como esta recheada de amor, bom senso, lucidez, princípios e igualdade de oportunidades.
    Obrigada por fazerem pensar e pela vossa beleza!
    5 Bjs. :)))))

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  2. Muito ânimo para vocès nesta causa tão nobre, justa e imprescindível!
    Até há pouco não se sabia nada do que se passava no interior duma criança, futuro homem ou mulher: agora dizem os científicos das emoções que quase tudo se decide desde que o bebé está no ventre da mãe até que tem cinco ou seis anos. Dá que pensar!
    Beijinhos sempre

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  3. Obrigada Ana, precisamos todas pensar e agir. Pelas nossas crianças, por todas nós.

    5 bjs

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  4. Oi Maria, desistir jamais, sorrir sempre, chorar quando preciso, enfim isso é viver e viveremos enquanto estivermos vivas.

    bjs e obrigada mais uma vez pela visita e pelo carinho.

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  5. Sempre muito bons estes artigos aprofundados que interessam a toda a gente. Apesar dos direitos que beneficiam, infelizmente o que se vê é o Estado demitir-se de uma intervenção mais eficaz e em muitas casas a forma como se trata uma criança peca por negligência!
    Beijinhos,
    Manu

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  6. Tens toda a razão Manuela, acreditamos entretanto que quanto mais pudermos falar sobre o assunto no sentido de dar conhecimento, expandimos as possibilidade de omissão e ou negligência, por parte do estado/governo e por parte da própria população, cidadãos sem a devida informação. Vamos começar de algum geito não é. Bjs e obrigada por vir, sempre muito bom.

    5 bjs

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  7. Muito interessante porque de facto a criança é -como o adulto- uma desconhecida...
    Bom pensar nela, amá-la, defendê-la, mesmo que por vezes ela saiba mais do que os outros...
    Um beijinho amigo
    Tudo adiado: Afinal o São João não me quis. Fica para dia 1 de Julho -que nem sequer é São Pedro!
    7 beijos
    o falcão a asoobiar

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  8. Querida amiga, nossas crianças são nossos reflexos, precisamos entender isso melhor, se quisermos ter um mundo melhor. Nem que seje por elas, precisamos entender porque e como as coisas se dão. Entender para mudar. Mais acho que elas sabem mais que nós em várias ocasiões sim.

    Quanto ao asoooovio, adoro isso, quando achamos que determinamos algo, lá vem o Maktube e nos pega pelo pé. Que assim seja, será quando tiver que ser.

    7 bjs contínuos ...

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  9. Qieridas, o que é esse Maktube? Um malandreco? Um "dibbuk"? O "djin"?
    Hahaha!

    beijinhos vão sete! E bom dia do São João, no Brasil!

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  10. Uma parte substancial da minha vida profissional (com o inevitável apelo pessoal que levou a esta escolha) é dedicada aos direitos das crianças, não apenas à sua apologia, mas também na criação de condições que os concretizem.
    Bem hajam por esta visibilidade que lhes deram aqui.
    Um abraço!

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  11. Sara, que seja você guardada sempre. Crianças são jóias, são sempre possibilidades, são inevitavelmente futuro. Temos discutido o asunto da desinformação em torno dos estatutos e leis, aqui no caso o ECA. A participação inflizmente tem sido pouco. Era de se esperar, infelizmente.

    5 bjs e bom te ver por aqui.

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  12. Caros, essa gota foi realmente transbordante: OBRIGADA! Muito boa a lembrança do dever da comunidade para essa blogagem coletiva. A gente sempre olha tanto para próprio umbigo que esquece que somos responsáveis pela violência doméstica da infância que mora ao lado. precisamos meter a colher no bolo infantil se ele estiver com algum ingrediente fora do ECA. Obrigada por terem aceito o convite da blogagem e prometo dar continuidade nesta conversa na segunda, quando pretendo fazer um resumo da galera que já participou da blogagem. Abraços!
    PS: meu nome é Ceila e não célia.

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  13. Ceila, mil desculpas do meu óculos, ele falhou rsrsrsrs. Iremos corrigir.

    essa matéria nos deixou claro o que ja estamos acostumadas, motivo e ação coletiva, disfarce em encarrar. É quase um tiro no pé a falta de coletividade. A maioria das participações e e-mail que recebemos foram de pessoas fora do Brasil. Conte conosco sempre.

    um abraço,

    Cozinha dos Vurdóns

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